Para fazer uma cachaça “com muito carinho e amor, que até as mulheres gostam”, só Dona Nicéia, de 79 anos, que aprendeu os segredos da fabricação com o marido, Nilson Duque. Ela conta que “tudo começou em 1996, logo depois que casamos. Tirávamos leite na Fazenda (Nossa Senhora das Graças) e achamos que não compensava mais pelo preço baixo que era pago pelo litro”.
Nessa época, Dona Nicéia e o marido, depois de montarem um pequeno alambique, estrearam com a primeira alambicada. -“Foi terrível, levamos um dia inteiro para fazer 50 litros de cachaça. Deu para desanimar. Falei com o Nilson que se fosse assim não ia compensar” – lembra. E foi a partir dessas primeiras dificuldades, que o casal procurou a ajuda de experientes fabricantes de cachaça da região de Manoel Honório, zona rural do município de Valença, próximo ao Sítio Velho Chalé, onde mora.
A cachaça “Velho Chalé” leva o nome do pequeno sítio de três alqueires que o casal comprou naquela época. Hoje o local é privilegiado para o comércio, tem um restaurante (do Duque) que está à beira do asfalto, na estrada que liga Parapeúna, Rio Preto, Santa Rita de Jacutinga, Santa Isabel, Volta Redonda e o Sul Fluminense.
Passado o tempo difícil da aprendizagem de fabricação da cachaça, Dona Nicéia se tornou experiente no trato da bebida:-” todo ano eu fico aqui no alambique, de julho a outubro, cuidando dela, corrigindo o sua gradação acoólica e colocando a quantidade certa de lenha na fornalha. Felizmente, aprendemos. Fazemos até três alambicadas por dia, às vezes até 400/500 litros”- brinca, rindo de quando fazia apenas 50 litros, há 26 anos passados.
A quantidade certa de lenha para alambicar o mosto e o grau que se dá à bebida é outro segredo da fabricação que ela ensina: – “Com muito fogo a cachaça não fica boa e muito forte (alto grau). Aí ninguém bebe”, diz sobre a cachaça, famosa em toda a região de Rio Preto e Santa Rita de Jacutinga. -“Desde que me casei com o Nilson, em 1963, vim morar aqui na roça. Fui criada dentro de cidade, em Valença. O Nilson é que me trouxe pra cá…”- lembra, pensativa no companheiro que já faleceu, em outubro de 2013:-” foram 50 anos juntos!” – lamenta a sua falta:
– “Ele me ensinou com muito carinho a gostar das belezas e simplicidades da roça. Trabalhávamos juntos todos os dias. E se fosse para ficar 24 horas trabralhando juntos ficávamos. Infelizmente ele se foi, mas deixou para mim esse legado maravilhoso da minha família, três filhos, duas noras, três netos e também um modo de vida em companhia da natureza, dos animais e das flores” – emociona-se Dona Nicéia.
Ela fala de uma conversa, mais cedo (no dia dessa entrevista) que teve no alambique, com o seu filho Duque: – “eu dizia a ele que eu não deixo de fabricar cachaça por nada nesse mundo. A vida para mim só tem sentido aqui no sítio, seja fazendo cachaça, ou vendo uma flor (orquídea) se abrir, um animal que acaba de nascer, uma galinha que botou um ovo, ou uma couve que vou apanhar na horta”.
É assim, feliz que Dona Nicéia tem sua rotina diária durante esse periodo em que fabrica a “Velho Chalé”: -“Levanto as cinco horas, com o dia começando a clarear. Côo o café, trato dos meus quatro gatos e cuido dos meus vasos de orquídeas”.Quando é sete horas ela vai para o alambique (há pouco mais de 100 metros de onde mora) e de lá só sai beirando as sete da noite. “Levam almoço pra mim, leio meus livros e ainda escuto radinho a pilha”- finaliza.