A abertura dos 210 anos do Caminho do Rio Preto ou Caminho do Comércio, em Bom Jardim de Minas, neste final de semana, domingo (14/11), deve ser comemorado como evento da maior importância dos últimos tempos para o resgate da História, Cultura e o desenvolvimento do turismo nas regiões de Rio Preto, Valença, Nova Iguaçu, Andrelândia, Bom Jardim, Passa Vinte, Santa Rita de Jacutinga, Lima Duarte e Olaria. No evento foi lançado o livro “Estudos Históricos Sobre o Caminho do Comércio”, de autoria dos pesquisadores e historiadores Marcos Paulo de Souza Miranda(Andrelândia) e Rodrigo Magalhães(Rio Preto).
Com o apoio da Prefeitura de Bom Jardim de Minas reuniram-se no prédio histórico (1712), “Casarão Recanto do Saber”, na Praça Presidente Vargas no Centro da cidade, mais de 150 pessoas, entre moradores, a Corporação Musical União Bonjardinense e pesquisadores, historiadores e representantes dos governos municipais de Nova Iguaçu, Academia Valenciana de Letras, Rio Preto, Santa Rita de Jacutinga, Passa Vinte, Lima Duarte, Bom Jardim, Andrelândia e Madre de Deus.
Solenidade
O prefeito de Bom Jardim, Joaquim Laércio Rodrigues abriu a solenidade agradecendo a presença dos participantes ao evento, que também contou com os prefeitos de Madre de Deus, Osmar de Oliveira e de Passa Vinte, Lucas Nascimento. O vice-prefeito da cidade, José Francisco Marcos Silva falou sobre a fundação de Bom Jardim. O empresário Manoel Chaves, que restaurou e doou para o município o “Casarão Recanto do Saber”, fez um relato sobre a vida e a importância de Antônio Correa de Lacerda, para o desenvolvimento de Bom Jardim nos idos de 1740.
-” As histórias, dessa casa somada a do Caminho do Comércio, juntas vão resgatar um momento importante para o país que foi essa passagem histórica por Minas Gerais” – frisou Manoel Chaves, também descendente de Antônio Correa de Lacerda. -“Somos todos descendentes de tropeiros”- disse o empresário, informando que o casarão era sede da fazenda chamada Bom Jardim.
Importância do Caminho do Comércio
O primeiro palestrante, o escritor e historiador Marcos Paulo de Souza Miranda, após uma exposição histórica sobre a Estrada Real do Comércio (Caminho do Comércio) disse que o livro lançado por ele e também pelo escritor e historiador Rodrigo Magalhães, em co-autoria, “traz as primeiras informações históricas desse caminho e é para lançar novos olhares sobre a importância histórica, cultural e turística do Caminho do Comércio para as regiões e cidades localizadas próximas ao seu percurso”:
-“O itinerário do Caminho do Comércio constitui um bem cultural enriquecido por diversas culturas por onde estão suas marcas e vestígios, às quais devemos acrescentar um valor conjunto. O Caminho do Comércio é o fio condutor entre todas essas localidades ao longo de mais ou menos 300 quilômetros. É um atrativo, um diferencial que poderá contribuir para aumentar a economia da região com o desenvolvimento do turismo” – afirmou Marcos Paulo de Souza Miranda.
Logo após falou o escritor Rodrigo Magalhães. Em sua palestra ele reforçou as palavras do seu antecessor lembrando que “o Caminho do Comércio foi o principal vetor, no passado, do desenvolvimento da região de Rio Preto. Naquela época muita riqueza passou por esse caminho, que agora poderá gerar novas riquezas com o desenvolvimento do turismo”. O pesquisador e autor do livro “Descoberto da Mantiqueira – O Sertão Prohibido do Rio Preto” fez uma brilhante exposição histórica sobre o “Caminho do Rio Preto: 210 anos da Real Estrada do Commercio – Breve histórico do bicentenário Caminho do Comércio em território mineiro”.
Na sequência das boas palestras, ilustrativas e passando conhecimentos para os participantes, falou Annibal Magalhães, membro do Instituto Amigos do Patrimônio Cultural – IAPAC, ONG de Nova Iguaçu/RJ sobre o tema (“Onde a estrada encontra o rio: história das localidades nascidas junto ao Porto do Commercio”); e, depois, José Luiz Teixeira, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu, sobre o tema “Reminiscências de uma estrada”.
Ao final, os escritores Marcos Paulo Miranda e Rodrigo Magalhães participaram de uma sessão de autógrafos e bate-papo, autografando os exemplares gratuitos dos livros para os participantes do evento, doados pela Prefeitura de Bom Jardim. O prefeito Joaquim Laércio Rodrigues e o vice-prefeito, Francisco Mattos e Silva entregaram os livros carimbados pelo Passaporte do Caminho do Comércio, simbolicamente, a primeira cidade do percurso histórico a registrar e receber a presença de turistas e visitantes.
Breve histórico
A Estrada Real do Comércio teve a sua abertura autorizada pela “Real Junta do Comércio, Agricultura, Fabricas e Navegação do Estado do Brazil e seus Domínios Ultramarinos” em 1811, para facilitar o transporte de gêneros do Sul da Província de Minas Gerais para a Corte Imperial. O caminho foi concluído em 1822. Projetada pelo engenheiro Antônio Soares de Andréas, seu traçado foi ligeiramente modificado a partir de 1835, quando foi empedrada (calçamento conhecido como pé-de-moleque) sob a coordenação do Coronel de Engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer, com a finalidade de adequá-la ao transporte de café.
As tropas partiam de Minas conduzindo bois, porcos, toucinho, galinhas e queijos, e retornavam do Rio de Janeiro trazendo produtos como sal, azeite, vinho, vinagre, bacalhau, lampiões, ferramentas e vidros. A rota, que se conectava ao Caminho Novo já nas proximidades da Província do Rio de Janeiro, partia de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, cortava a atual Reserva Biológica Federal do Tinguá subia as serras, passava pelo porto de Ubá (atual Andrade Pinto, distrito de Vassouras), seguia em direção a Valença e depois passava pelos antigos arraiais mineiros de Rio Preto (regiões de Santo Antônio das Varejas e Funil), Bom Jardim (Taboão), Turvo (atual Andrelândia), Madre de Deus, São Miguel do Cajuru, Rio das Mortes Pequeno e, finalmente, chegava à Vila de São João Del Rei, sede da Comarca do Rio das Mortes. Ainda são muitos os vestígios desse caminho.