Em Rio Preto, servente de pedreiro forma-se em Engenharia

A vida dura de ajudante de pedreiro ou servente, não foi obstáculo para Ian Raimundo da Silva (27) estudar o curso superior de Engenharia e graduar-se Engenheiro. Ano passado ele formou-se, depois de passar cinco anos estudando à noite, na Universidade Geraldo Dibiasi, em Barra do Piraí. Filho de pai também pedreiro, Arlindo Raimundo Silva, ele contou sempre com o apoio e estímulo da sua mãe Maria Aparecida Conceição da Silva para estudar.

Desde jovem que Ian alimentava a vontade de ser Engenheiro. Formado e ainda sem dedicar-se inteiramente à  nova profissão, Ian ainda continua a trabalhar como servente durante o dia.- “Quero aos poucos ir fazendo a transição”, diz, com simplicidade, ao falar da passagem de uma profissão para a outra.  Atualmente, Ian está trabalhando como servente na obra em que fez o seu primeiro projeto e os cálculos estruturais, no Bairro Cruzeiro, em Rio Preto.

Confiança no Engenheiro

A obra, de 140 metros quadrados é de propriedade de um amigo de Ian, Leonardo Lauza de Jesus Ramalho (32), que confiou ao engenheiro recém-formado o desenvolvimento do projeto da sua casa. – -“Conheço o Ian desde a infância. Sei da sua dedicação e do seu comprometimento com o Curso de Engenharia”- lembra Leonardo Lauza, falando com respeito do amigo e do seu esforço para trabalhar e estudar:”tenho orgulho de tê-lo como amigo e hoje ele ser um engenheiro”- frisa.

Ian diz que ficou “um pouco receoso” por ser a sua primeira obra, quando indagado se não teve medo de aceitar a proposta para desenvolver o projeto de construção da casa do amigo. Já o dono da casa, Leonardo Lauza  é enfático: “em momento algum tive dúvidas de escolher o Ian para fazer a minha casa. Fico muito feliz por ele, em ver que conseguiu chegar aonde chegou e agora tem um belo futuro profissional pela frente”.

Além de Ian estar desenvolvendo com competência técnica a execução do seu primeiro projeto, para incentivar o trabalho do amigo, Leonardo Lauza o elogia pela experiência de 12 anos de trabalho como servente: “por ele viver o dia a dia do trabalho de um pedreiro e de um servente, acredito que saia em vantagem sobre aqueles que não conhecem bem a execução de uma obra”- diz.

Outro que elogia o engenheiro recém-formado é o pedreiro José Emídio, que trabalha com Ian há quatro anos: “ele não é servente, é meu ajudante”- faz questão de ressaltar Zezé, um dos pedreitos mais renomados de Rio Preto na construção de residências.- “Sei que vou perdê-lo, mas o meu prazer é saber que também participei do seu esforço de estudar para formar-se engenheiro” – brinca  prevendo:”agora vou ter que escolher outro ajudante e, se puder, também vou ajudá-lo a estudar”.

Entre os planos futuros de Ian está o de abrir na cidade de Rio Preto um escritório para desenvolver projetos na área de Engenharia Civil. – “Minha expectativa é continuar aprendendo para ser um bom engenheiro”- finaliza. A vida  de Ian para se formar não foi fácil. Ele trabalhava das 7 às 16 horas como servente. Depois ia correndo para casa tomar banho, pegar os livros e ir de ônibus para a faculdade, de onde só voltava para casa às 23:00 horas. “Essa luta foi durante cinco anos” – lembra.