Em São Luiz, ou “Porto”, o dia passa vagaroso, o vento tropeça nos galhos e folhas das árvores. Uma rua só e as 20 e poucas casas dão lugar apenas ao vento e, de vez em quando, um ou outro que passa. No mais, o movimento “é pouco mesmo” – diz João Fraga, o mais velho do lugar. -“Afinal, ter medo de quê ?- completa Fraga. Olho no olho, ele diz: – “não há lugar de sossego melhor pra viver”.
A 10 quilômetros de Rio Preto, a pequena vila tem também uma pequena escola municipal onde estudam cerca de 30 crianças. Tem um pequeno comércio, um armazém, dois ou três bares e o restante de Sao Luiz é para prosear nos bancos à beira rua, passagem para Santa Clara e Santa Rita de Jacutinga.
Quem conta a origem do nome “Porto” é o mesmo João Fraga, ao falar da origem de São Luiz. -“Fui barqueiro neste rio junto com meu tio Mário Catarino” – lembra, apontando para o rio Preto, desfilando suas águas escuras e esverdeadas ao fundo quintal da sua casa beira-rio. -“Era ali o porto, local de embarque e desembarque de mantimentos”- afirma ao recordar que “na barca São Roque eram levadas rio abaixo, diariamente, cerca de 60 latas de leite para a Cooperativa em Parapeúna”.
O que diz Fraga é verdade. Nas décadas de 40/50 e 60 era através do porto que saia rumo abaixo pelo rio Preto com destino as cidades de Rio Preto e Valença(por Parapeúna) as mercadorias produzidas na região de São Luiz pelas fazendas da época. -“Nós atrevessávamos a barca de uma margem à outra do rio”- mostra o barqueiro a engenhoca de madeira que enrola e desenrola o cabo de aço que faz o deslocamento da barca através do rio.
Ainda nos dias de hoje a barca continua a fazer a comunicação entre os lados fluminense e mineiro. Do lado fluminense passava a estrada de ferro da Rede Ferroviária Federal, que não existe mais. Então, as mercadorias do lado mineiro chegavam até a barca e eram atravessadas para ao outro lado. Dali serguiam em lombo de burros até a estação à espera do trem, levando os produtos até Parapeúna(dali a Rio Preto) ou Valença e Rio de Janeiro.
Lembra João Fraga que “o porto era muito importante. Tinha a venda do “Dininho” que tinha desde agulha até toucinho”. Havia naquela época muita fartura e produção de alimentos pelas fazendas da região de São Luiz.-“Me lembro da Fazenda São Luiz que tinha o Laticínio do Dirceu Vilela e que produzia muito queijo e leite que tinha uma vagão de trem só para a produção da fazenda”.
Em São Luiz, do lado mineiro, também havia um cortume de couro. -“Aqui tinha o charqueado e se produzia a melhor carne-seca da região”- lembrou João Fraga. Essa produção de carne e derivados do cortume era vendida e comercializada em Rio Preto, Valença, Santa Rita de Jacutinga e Bom Jardim de Minas.
A bacia leiteira daquela região era uma das mais prósperas do Vale do Rio Preto. Isso se devia às grandes várzeas que existem à beira do rio Preto e que produzem capim para as vacas leiteiras. Segundo afirma João Fraga “falava-se que a Fazenda São Luiz tinha uma produção de leite de mais de mil litros e empregava mais de cem pessoas”.
Nos dias atuais quem é o responsável pela condução da barca que atravessa sobre o rio Preto em São Luiz é João Paulo de Oliveira, funcionário pago pela Prefeitura de Rio Preto.